A cada ano que passa, com chuvas mais pesadas e caóticas, fica claro como a temporada das águas virou um problema enorme para os síndicos. Afinal, se em 4 horas chove o que era esperado para um mês, é claro que os condomínios, assim como as cidades, vão sentir.
Porém, não é de agora que as chuvas dão sinais de que certas coisas não estão 100% em dia, como o síndico gostaria.
“As chuvas costumam revelar falhas de manutenção ou de projeto que estavam “escondidas”. Os problemas mais comuns incluem infiltrações em garagens e coberturas, transbordamento de calhas e ralos, e alagamento de áreas comuns. Em alguns casos, as chuvas também agravam patologias estruturais preexistentes, como fissuras em muros de contenção ou desplacamento de revestimentos de fachada”, exemplifica o engenheiro especializado em condomínios Felipe Lima.
É por isso que muitos manutencistas não gostam de chuva: é ela quem dá o primeiro sinal de que algo não está 100% na manutenção do condomínio.
Evitando danos da chuva ao condomínio
Principalmente por conta do alto volume de chuvas que se tem caído nos grandes centros urbanos, o cuidado prévio para esses momentos é fundamental.
Os cuidados sugeridos pelos especialistas consultados pela Universidade Condominial, para a época de chuva, são:
- Desobstrução de ralos e sistemas de drenagem;
- Desentupir calhas;
- Poda preventiva de árvores;
- Cuidados preventivos com bombas de recalque;
- Olhar cuidadoso para as impermeabilizações;
- Limpeza periódica da caixa de gordura de esgoto;
- Inspeções regulares a infiltrações.
Vale dizer que, em se tratando de infiltrações, pode ser benéfico já chamar um especialista.
“Fica mais fácil para perceber de onde a infiltração está vindo, conseguimos perceber melhor a sua origem, se vem do teto ou do chão. A avaliação da patologia é mais assertiva com o processo ativo”, pontua a arquiteta Georgia Gadea, da AAB Arquitetura.
Áreas alagadas
A síndica profissional Alethea Meira conta que um dos condomínios administrados por ela sofre com alagamentos na garagem do segundo subsolo, na Grande São Paulo.
“Se está prevista chuva forte, já aviso aos moradores, por todos os meios, para não estacionar ali, pois o espaço alaga mesmo. Não é apenas a água da rua, há também uma mina que, nessas condições, a água vai para lá. É muito rápido, em 15 segundos a garagem encheu”, conta ela.
A ‘sorte’ é que este empreendimento conta com 4 estacionamentos, o que possibilita que os moradores estacionem dentro do condomínio sem contar com a área alagável.
Já Karine Prisco, síndica profissional atuante no Rio de Janeiro, conta que um edifício administrado por ela em Copacabana também sofre com o volume das águas.
“Aqui em Copacabana, muitos condomínios foram construídos em cima de rios. Então, quando chove muito, pode encher rápido as áreas do prédio”, conta.
Para evitar que isso aconteça, Karine desenvolveu uma contenção para que a água da rua não entre no condomínio.
“Como os bueiros entopem e a água retorna, a calçada enche e a água entra no condomínio. Fizemos, sob medida, uma chapa de metal para conter a água. Com o uso da bomba e da chapa, melhorou bastante”, aponta a síndica.
O uso de barreiras físicas é, realmente, uma indicação quando o volume de chuvas é exagerado, a água da rua realmente entra no condomínio e não houve problemas nos sistemas do condomínio.
“Para esses empreendimentos eu sugiro que o síndico implante barreiras na frente da edificação para evitar que a água da rua entre no empreendimento, e treine a equipe em como usar esses dispositivos”, assinala Felipe Lima.
Outro ponto que pode ser um desafio para os síndicos é encontrar uma seguradora que tope fazer seguro contra alagamento em áreas que contam com esse tipo de problema.
Cuidados com os elevadores em momentos de chuva
Já se sabe que não se deve usar o elevador com a chuva muito intensa, já que há a possibilidade de cair a energia.
“Quando há previsão de muita chuva, comunico para que os moradores deixem de usar o elevador, porque há muitos picos de energia e o mesmo pode parar”, exemplifica a síndica profissional Larissa Lacerda, cuja atuação é na Grande São Paulo.
Em uma das últimas chuvas que houve, um componente do elevador queimou e ela ficou quatro dias com o equipamento parado.
Em outro condomínio, a síndica teve que lidar com um vazamento no poço do elevador – resultando em uma semana com o mesmo sem uso.
Outro ponto é deixar o elevador para cima, evitando áreas que porventura alaguem.
“Isso evita que molhe a máquina que fica em cima do elevador, caso haja algum problema de transbordamento”, aponta Karine Prisco.
Telhados afetados pela chuva
Os telhados também podem pedir cuidados extras após um temporal.
“As chuvas esse ano tiveram como resultado muitas telhas voando. Com isso, houve também vazamentos e infiltrações”, aponta Larissa Lacerda.
Alethea Meira também precisou refazer telhado em um dos empreendimentos onde atua como síndica.
“Foram 50 telhas novas, caçamba e impermeabilizante. Muitos gastos para o condomínio”, aponta.
Com tantos gastos, caso não haja um fundo de reserva, é necessário um rateio extra para fazer frente à manutenção.
E mesmo sendo caro, vale a pena sempre executar a correção no início.
“É importante que o síndico resolva essas questões, e que conte sempre com mão de obra especializada para isso”, observa Georgia Gadea, arquiteta.
Época seca no condomínio
Com o período de estiagem chegando, chega também o momento de executar com mais facilidade as manutenções referentes aos danos da chuva.
“O ideal é que os reparos comecem logo após o período de chuvas ou assim que houver uma pausa no tempo instável, aqui em São Paulo por exemplo, estamos justamente nesse período. É como diz o ditado popular, a melhor hora de arrumar o telhado é quando não está chovendo”, aponta Felipe Lima.