Hortas coletivas – saúde compartilhada

Liège Alves

Condomínios utilizam espaços ociosos para implantar áreas de cultivo

A receita é simples:

junte 55% da população mundial que habita em áreas urbanas com acesso fácil à informação sobre alimentação de boa qualidade e seus reflexos na saúde. Misture com o fato de que vivemos mais, graças à evolução da medicina e da tecnologia. Acrescente que a maioria destas pessoas mora em apartamentos.

Misturando todos estes dados temos uma demanda crescente por alimentos saudáveis e pouca área para o cultivo deles. Foi desta equação que começaram a surgir as hortas dentro dos condomínios. Detectando esta tendência, empresas de paisagismo e jardinagem passaram a incluir no seus serviços a possibilidade de planejar, executar e fazer a manutenção destes espaços nos prédios. Mais do que um espaço coletivo, o engenheiro agrônomo Roberto Silva acredita que os benefícios vão além da alimentação saudável. “É uma forma também de fortalecer a identidade coletiva e o senti- mento de presença do grupo”, explica Silva, que também é mestre em Gestão Ambiental.

Segundo ele, este mercado do chamado “foodscape” já movimenta 800 milhões de pessoas pelo mundo afora. Na prática significa ocupar espaços públicos e privados para produzir alimentos saudáveis e rastreáveis por meio da implantação de hortas urbanas. Usando este conceito, Silva criou a Eccos Recyclle, empresa que presta serviços de consultoria, planejamento e execução de hortas em condomínios. “Geralmente são espaços ociosos estes escolhidos para abrigar as hortas. Além de promover o hábito da alimentação saudável, é uma sensibilização ambiental e social da comunidade”, define Silva.

A consultoria começa com uma conversa com os moradores para entender suas necessidades, neste momento também é aplicado um questionário. Com base nas respostas é elaborado um projeto. A empresa criou o Dr Eccos, planos semelhantes aos de saúde com vários tipos de coberturas. O condomínio pode optar por contratar apenas o planejamento ou tem a opção de fazer também a execução e a manutenção.

O tipo da horta que será implantada depende do local e do modelo escolhido. Silva explica que é possível fazer horta auto irrigável, de parede ou até hidropônica. O plano prevê a implantação de uma área de compostagem para que o condomínio não precise gastar com a adubação. “Oferecemos toda a base de assistência técnica e agronômica. A gente traz um conhecimento técnico e nossa experiência para dentro do condomínio”, salienta o engenheiro agrônomo.

ESCOLHAS IMPORTANTES PARA TER MELHOR RESULTADO

Escolher o local adequado para a horta parece ser algo simples, mas é complexo. Assim define o paisagista Jéson Faggionatto, da Natto Paisagismo. Para uma horta tradicional o lugar ideal não pode ser muito úmido (porque vai ser propício para proliferação de pragas) e não pode ser extremamente seco. Requer também um pouco de sombra. Resumindo: dê preferência para áreas com orientação para o Leste, pois vão pegar o sol da manhã e não o da tarde. Terrenos virados para o Sul devem ser evitados. Embaixo de torres acima de 10 andares não é aconselhável. “O vento que passa em cima do prédio, acelera na base, por isso é melhor procurar um local que não tenha corrente de vento”, ensina Faggionatto.

Embora com a tecnologia de telas de sombreamento e de irrigação seja possível amenizar as questões climáticas e abrir mais possibilidades de plantio em lugares antes considerados não adequados. Se há trânsito de cães e crianças, uma solução encontrada pode ser plantar mudas em vasos ou floreiras mais altas. “Estamos fazendo muitas reformas de jardins colocando vasos novos. Os antigos, para serem reaproveitados, são reunidos em um canto, às vezes empilhados, e viram suporte para estas plantas”, indica o paisagista.

Outra questão importante que lembra Faggionatto, diz respeito às espécies escolhidas. O melhor é privilegiar temperos, chás e ervas medicinais. Colocar menos plantas comestíveis que rendem pouco e são consideradas culturas anuais. Uma exceção é a couve porque muitos a utilizam para fazer suco verde e para isso usam poucas folhas. “Em hortas coletivas não conseguimos alta produção. Por isso deve ser colocado os tipos de plantas que atendem o maior número de pessoas possível para não haver desavenças entre os moradores. Um pé de hortelã, por exemplo, atende uma média de dez famílias, diferente de um pé de tomate, que não atende nem uma família inteira”, exemplifica.

Irrigar, cuidar da nutrição e não colocar nenhum tipo de veneno são cuidados básicos. A existência de joaninhas, tatu-bola, minhocas indicam a qualidade do solo. Assim como a presença de passarinhos ciscando é um sinal de que a terra está com boa qualidade. Ter um responsável pelo local faz toda diferença para o resultado final. “Tem que ter alguém encarregado para acompanhar, fazer a manutenção, coleta e distribuição da colheita. Plantas precisam de poda para não perder seu vigor, assim como é necessário cuidar com pulgões, fungos e outras pragas”, finaliza Faggionatto.

Facebook
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Posts relacionados

Newsletter

Fique por dentro de tudo que é importante sobre o mercado condominial!