Ricardo Karpat
Atualmente, um tema que tem ganhado cada vez mais atenção em diversos contextos sociais e profissionais é o modo como lidamos com os erros. Especialmente quando observamos as diferenças geracionais, percebemos um contraste marcante entre a banalização do erro entre os mais jovens e a intolerância exagerada entre os mais experientes. Esse fenômeno afeta desde ambientes corporativos até a gestão de condomínios, exigindo uma reflexão profunda sobre responsabilidade, tolerância, saúde mental e profissionalismo.
A Banalização do Erro e os Jovens
Entre as gerações mais jovens, é cada vez mais comum observar uma atitude casual diante dos erros. A expressão “tudo bem, eu errei, mas foi só isso” sintetiza essa postura, que em muitas situações representa uma falta de atenção e cuidado, mesmo em tarefas que não admitem falhas, como transferências bancárias ou decisões críticas em ambientes de trabalho. Essa normalização do erro, quando não acompanhada de ações corretivas, pode comprometer seriamente processos e relações.
Essa abordagem muitas vezes reflete um cenário maior, influenciado por conteúdos digitais que exaltam estilos de vida imediatistas e recompensas fáceis, propagados por influenciadores. Isso gera falsas expectativas de sucesso sem esforço, contribuindo para a frustração e a impaciência dos jovens diante de exigências reais do mercado de trabalho.
A Intolerância dos Mais Velhos e o Ambiente Corporativo
No extremo oposto, a geração mais experiente tende a ser extremamente crítica consigo mesma, tendo dificuldade em aceitar falhas e frequentemente se punindo de forma excessiva por elas. Essa postura, embora revele um forte senso de responsabilidade, também pode contribuir para um ambiente de trabalho pautado pelo medo de errar, inibindo a inovação e a experimentação.
Essa dicotomia entre permissividade e rigidez impacta diretamente a cultura organizacional das empresas. De um lado, a banalização do erro prejudica o comprometimento, a confiança e a disciplina. Do outro, a intolerância ao erro limita a criatividade, gera desgaste emocional e pode contribuir para ambientes tóxicos.
O Erro na Gestão Condominial: Tolerância e Empatia
Essa dualidade também se manifesta na atuação dos síndicos. Muitos moradores, especialmente aposentados bem-sucedidos, tendem a ser extremamente exigentes e pouco tolerantes com falhas na gestão. Cabe a esses gestores o desafio de adotar uma postura emocionalmente inteligente, entendendo que críticas muitas vezes não são pessoais, mas reflexo das insatisfações individuais de cada morador.
Por outro lado, é fundamental que o próprio síndico ou qualquer profissional responsável por uma função de liderança saiba reconhecer seus erros sem justificativas frágeis ou tentativas de transferir culpa. A resposta adequada a uma falha – com pedido de desculpas e um plano de ação – é o que distingue um erro aceitável de uma negligência.
Caminhos para o Equilíbrio: Excelência, Saúde Mental e Profissionalismo
Resgatar o senso de excelência é uma das propostas mais urgentes para equilibrar essa balança entre o erro normalizado e a punição exagerada. Reconhecer que errar é humano, mas não deve ser banalizado, é um passo essencial para uma cultura mais saudável, produtiva e justa.
Além disso, práticas de autocuidado e saúde mental são indispensáveis para lidar com a pressão do desempenho e as críticas. Alimentação equilibrada, sono adequado, atividades físicas e grupos de apoio são estratégias importantes para manter o equilíbrio emocional. A corrida ou a prática esportiva diária pode funcionar como um “remédio”, proporcionando clareza mental e disposição.
Outro aspecto fundamental é a profissionalização. Ter uma rotina de trabalho organizada, com horários definidos e espaços delimitados para o descanso, contribui para a eficiência e evita o desgaste. Assim, torna-se possível lidar com os desafios do cotidiano sem perder o foco e a qualidade da entrega.
O futuro é desafiador
O desafio não está apenas em como evitar erros, mas em como reagimos a eles. Entre a banalização e a intolerância, há um espaço importante a ser ocupado por uma cultura de responsabilidade consciente, empatia, aprendizado contínuo e equilíbrio. Promover essa mudança exige esforço coletivo – nas empresas, nos condomínios, nas famílias e, principalmente, dentro de cada indivíduo.
Ricardo Karpat é referência nacional na formação de Síndicos Profissionais; Especialista em Condomínios com mais de 20 anos de atuação; Diretor da Gábor RH e da Certificação Síndico 5 Estrelas; Colunista do programa CBN A VOZ DO SÍNDICOS e apresentador do programa Condomínio em Pauta, pela CondTV.