Síndicos relatam valores muito diferentes de um mês para o outro e apontam descumprimento do prazo de leitura dos hidrômetros. Procon e MP já foram acionados.
Moradores de diferentes bairros do Rio de Janeiro estão assustados com os valores cobrados nas contas de água e questionam os critérios usados pela concessionária Águas do Rio para medir o consumo. Além das faturas com valores muito discrepantes, síndicos denunciam que os prazos para leitura dos hidrômetros também não estão sendo respeitados, segundo as reclamações.
Em um prédio com 22 apartamentos em Laranjeiras, o síndico Roberto Passarella tenta entender há meses por que as contas variam tanto de um mês para o outro.
“Uma diferença muito grande que é surreal. Uns meses vem R$ 3 mil, R$ 4 mil, outros R$ 10 mil. E sem explicação. Esse prédio já teve o hidrômetro trocado três vezes”, relata Roberto.
Outro exemplo vem de um condomínio que pagou, em julho, por apenas 21 dias de consumo, um valor maior do que em junho, que teve 28 dias.
Luiz, outro síndico, disse que entrou em contato com a Águas do Rio e foi informado de que o cálculo da conta se baseou numa média — mas sem explicação de como ela foi feita.
O problema não é isolado. Segundo o Procon estadual e a Secretaria Estadual do Consumidor, mais de 2.500 reclamações sobre cobranças nos serviços de água e esgoto foram registradas só este ano. Na semana passada, o deputado estadual Claudio Caiado (PSD) protocolou uma representação no Ministério Público contra a Águas do Rio, acusando a concessionária de práticas abusivas de cobrança.
Outra reclamação recorrente é sobre os intervalos de medição. A Agência Reguladora do Estado do Rio (Agenersa) determina que o consumo deve ser medido entre 27 e 33 dias, mas moradores afirmam que a regra não está sendo cumprida.
No condomínio do síndico Ricardo Vilela Souto Jorge, por exemplo, a fatura de agosto levou em conta um intervalo de apenas 22 dias — o que, segundo ele, resultou numa cobrança cerca de R$ 1 mil acima do valor que deveria ser pago.
“A taxa de água é a mesma da taxa de esgoto. Então, quando a cobrança vem errada, ela dobra”, explicou.
Síndicos alertam ainda que, após um mês com intervalo curto de medição, geralmente vem um mês com intervalo bem maior — o que pode empurrar o consumo para faixas tarifárias mais caras.
O advogado Vinicius Bragança, ouvido pela reportagem, explica: “Se eu faço a medição num período curto, te cobro a tarifa mínima. Mas se a próxima leitura for em um período mais longo, você estoura o consumo mínimo e entra numa faixa mais cara. Ou seja, você acaba pagando mais caro pela água, enquanto em um outro cenário você paga pela água que você não consome”.
Diante da situação, Luiz e Michelle passaram a anotar diariamente o consumo da cisterna para ter um controle mais preciso do gasto no prédio. “A gente consegue perceber aqui em alguma variação se teria problema em tubulação, vazamento ou algum consumo impróprio”, diz Luiz.
Em nota, a Águas do Rio informou que o modelo tarifário está em conformidade com a legislação e com o regulamento de serviços aprovado pela agência reguladora e pelo governo do estado. Disse ainda que cada caso será analisado e que vai entrar em contato com os clientes. A concessionária destacou que atende mais de três milhões de domicílios e que o acesso ao hidrômetro é essencial para a leitura correta. Quando esse acesso é impedido, a cobrança é feita com base na média.